Um presente à comunidade do Rio de Janeiro vem conquistando
moradores do Morro dos Prazeres e o jovem menino que vos escreve. A Festa
Literária Internacional das UPPs(FLUPP), iniciada nesta quarta-feira, enaltece
a educação para todos e disponibiliza cultura para quem pouco possui e para os
que sempre quiseram tê-la, mas, frustrados, optaram por outras vias, rechaçados
por um vácuo de resposta que não é resposta, é descaso e discriminação.
O substrato da minha crítica sempre foi fundamentalmente
político quando relativo à educação brasileira. Continua sendo, porém, hoje,
enfatizo a discriminação da sociedade pela própria sociedade, argumento que já
está desgastado e precisa, sim, ser dito e repetido. O descompromisso com o outro
e a autoelevação do “eu” são efeitos destes atos obsoletos que sufocam toda uma
camada social. Não é perda de tempo dizer isso. Perda de tempo é não dizer.
O Brasil possui 14 milhões de brasileiros analfabetos, onde
apenas 25% de adultos são concluintes do Ensino Médio. Pode-se dizer que já
melhorou muito em relação a anos anteriores, mas essa deve ser a tendência
natural das coisas, a evolução. O erro dos antigos deve fortalecer e guiar
novas atitudes. O país já possui forte imagem no âmbito mundial, construída por
concessões representativas no campo desportivo e econômico (petróleo). Mas,
como já mencionei em postagens anteriores: Uma imagem não é nada mais nada
menos que um kit de beleza, uma maquiagem.
A divulgação do
Brasil como país tropical e resistente às crises mundiais é completamente desproporcional
ao que ocorre no interior do kit de beleza. Aqui dentro, as cores, os brilhos e
o espelho que dão luz e consistência à aparência nacional, transformam-se em
rivalidade, preconceito e, com o espelho já fechado, truncado com o pó e as
cores, percebe-se a cegueira intrínseca a certos cidadãos que não olham para si
próprios e muito menos para os outros. Sei que não é só a política a principal
causadora da precariedade educacional. Se achasse isso, a culpa de uma
sociedade desigual também cairia sobre mim. Certas pessoas, instruídas, nesse
país são verdadeiras máquinas opressivas que rechaçam seus inferiores sem
piedade e com autoridade de donos da verdade.
A própria construção
linguística do Brasil é altamente excludente e nada democrática. Infelizmente
ainda vejo muitos profissionais, personalidades cultas e outros indivíduos
letrados agindo de forma radical quanto à variedade linguística, por exemplo.
Nossa história deriva de uma forte presença de Portugal, iniciada no século
XVI, que deu origem à forma de pensar, interagir e, principalmente, falar. No
entanto, não é por causa dessa influência portuguesa que devemos seguir a
cartilha lusitana e esquecer nossa própria formação brasileira, a nossa
cultura. Apontar o erro X ou Y, culpando o falante ignorante não é o caminho
para a educação. Há de se analisar amplamente as circunstâncias sócio-culturais
e, inclusive, expandir discussões para a inclusão a nível nacional, como a
FLUPP, por exemplo. Ótima iniciativa que visa o acesso aos bens da cultura
letrada.
Apropriando-me do sincero discurso de Carlos Alberto Faraco,
grande linguista brasileiro, encerro esse misto de desabafo à elogio dando
ênfase à democratização da educação e implorando o fim da “norma curta” e a
cultura do erro que restringem a língua brasileira e inferiorizam as classes populares.
Deixo meu humilde convite ao morro de
Santa Teresa ou a quaisquer outras fontes
educativas que proporcionem acesso ao conhecimento e ao letramento.
- “Ensinar tudo a todos” era o que dizia Comênio!
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